sexta-feira, 17 de junho de 2016

A Partilha (2001)



A peça teatral “A Partilha” foi escrita por Miguel Falabella em 1991. Ficou em cartaz por 6 anos, com as atrizes Natália do Vale (Selma), Suzana Vieira (Regina), Thereza Piffer (Laura) e Arlete Salles (Lúcia). O sucesso da peça foi tão grande que em 2000, o autor escreveu “A Vida Passa”, a continuação da história. Apesar de tratar de uma tema sério como a partilha de bens e seus conflitos, tanto a peça teatral como o longa-metragem tem o humor irônico como ponto forte. No making of do filme, o autor Miguel Falabella disse que teve a ideia de escrever a história, depois de presenciar uma discussão horrível entre 2 irmãs, quando foi comprar um antigo apartamento na década de 80. 




O longa-metragem começa com o falecimento de uma senhora idosa em seu amplo apartamento no Rio de Janeiro. Ao seu lado estava Bá Toinha (Chica Xavier), a fiel empregada de muitos anos, que cuidou das 4 filhas da patroa. Com a morte da mãe, as filhas teriam que se encontrar para decidir como seria feita a partilha de bens. Selma (Glória Pires) era a pragmática e conservadora. Casada com o militar Luiz Fernando (Herson Capri) e mãe da jovem Simone (Fernanda Rodrigues), também conhecida como Shanadaporanga. Regina (Andréia Beltrão) era espiritualista, hippie, psicóloga, separada e mãe de 2 filhos ausentes. Laura (Paloma Duarte) era a caçula intelectual, discreta e rebelde. Era a namorada de Célia (Guta Stresser) e sonhava em fazer um mestrado na Alemanha. Lúcia era futil e engraçada. Casada com Jean-Claude, foi embora para paris por amor e deixou seu filho Maurício (Thiago Fragoso) com seu ex-marido Carlos (Dennis Carvalho). Após o velório e o enterro, as 4 irmãs reencontraram-se no apartamento da mãe para conversar sobre a venda e a partilha dos bens. 




Selma já tinha escolhido o corretor Bruno Diegues (Marcelo Antony) e estipulou o valor de venda do apartamento em R$ 400.000 reais. Catalogou todos os objetos numa enorme lista e queria dividir os objetos imediatamente. As irmãs reclamaram porque não foram consultadas! Regina sentia a energia do apartamento e ficou emocionada ao reencontrar o seu mural de fotos e o jogo de chá de brinquedo em seu antigo quarto. Na sala, as irmãs começaram a conversar sobre a vida! Selma reclamou do casamento rotineiro com um militar, Lúcia confessou que fugiu do Brasil porque apanhava do marido bêbado, Regina reclamou da solidão e disse que preferia o sexo casual. Laura assumiu que era homossexual e que sempre precisou das irmãs mais velhas e que sentia muita raiva da ausência delas. O reencontro das 4 irmãs abria velhas feridas, que nunca foram cicatrizadas e nesse processo de desapego do passado, antigos fantasmas do passado voltaram para assombrar suas vidas. 




A terapia de grupo forçada, deixava as irmãs com os sentimentos a flor da pele. Numa das cenas mais tensas do filme, elas estavam dentro de um elevador e Regina confessou para Selma que tinha transado com o marido dela na juventude. Imagine 4 irmãs trocando insultos e tapas dentro de um elevador! Nessa montanha russa emocional, Selma contou para as irmãs que sua filha Simone está grávida aos 15 anos de idade. Laura disse que era apaixonada por Célia, mas que sofria porque iria para a Europa sozinha. Regina contou orgulhosa que fez lipoaspiração e que colocou silicone nos seios. Esse momento de reencontro fez as irmãs se reencontrarem e elas tiveram que aceitar que a vida estava muito diferente de seus sonhos juvenis! Mas qual seria o problema? Foi quando o corretor Bruno avisou que um cantor de pagode se apaixonou pelo apartamento e que pagaria R$ 350.000 à vista pelo apartamento. Regina, Lúcia e Laura comemoraram. Selma teve medo e disse que estava em dúvida.


Mais calmas elas foram almoçar num restaurante a beira mar. As críticas deram lugar a alegria e elas se libertaram dos fantasmas do passado. Depois do almoço, elas saíram para caminhar e foram surpreendidas pela passagem de um dirigível, que sobrevoava a praia e que tocava a música Dancing Days das Frenéticas. Numa das cenas mais lindas do cinema brasileiro, elas dançaram para comemorar o início de uma nova vida! No dia seguinte, lindas, leves e soltas se encontraram no apartamento para assinar o contrato de venda do apartamento. Quando o corretor chegou com o comprador chamado Tonelada (Lui Mendes), seu empresário (Cassiano Ricardo) e o tabelião (Bernardo Jablonski), Selma desistiu da venda e se trancou no quarto com a chave da porta principal. Laura saiu pela janela e andou pela fachada do prédio para pegar a chave da mão de Selma, que jogou o objeto lá embaixo. Naquele momento, Luiz Fernando chegou nervoso no hall do apartamento e prometeu arrombar a porta. 




Na confusão do lado de fora do apartamento, ainda chegaram Maurício e Célia. No momento em que o militar se preparava para arrombar a porta, a Bá Toinha encontrou a chave reserva e abriu a porta! Todos invadiram o apartamento e o impasse foi criado. O comprador Tonelada chegou para assinar o contrato de compra do apartamento, Selma desistiu da venda enquanto suas 3 irmãs desejavam fechar o negócio. Com um desfecho interessante e profundo, o longa-metragem dirigido por Daniel Filho nos mostra que a vida é composta por ciclos, mesmo que algumas pessoas não aceitem e fiquem presas aos momentos do passado. Na verdade a questão era muito maior do que a venda do apartamento, porque tratava-se do fim de um ciclo da vida, onde as lembranças de um passado querido deveriam ser deixadas para trás. O grande problema é que enquanto algumas pessoas querem olhar para a frente, outras só querem olhar para trás... 


Blog Minha Vida no Cinema
www.minhavida-nocinema.blogspot.com.br
www.facebook.com/minhavidanocinema
minhavidanocinema@gmail.com

Nenhum comentário: