quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O Palhaço (2011)



O cinema brasileiro é injustamente associado aos filmes de comédia, repletos de situações clichês e palavrões. Felizmente também são produzidos longas-metragens que deixam mensagens importantes e nos fazem pensar sobre os mais variados assuntos. Confesso que fiquei muito emocionado quando assisti ao drama O Palhaço no cinema porque a mensagem principal é maravilhosa! Afinal de contas, quem nunca se questionou sobre qual é a sua missão nesse mundo ou qual é o lugar certo para viver e trabalhar? O filme é repleto de simbolismos, escolhidos detalhadamente pelo diretor Selton Mello, que obriga as pessoas a pensar. É muito interessante o fato do protagonista ser um alegre palhaço que esconde um cidadão triste.


Quando as cortinas do Circo Esperança se abriam, Benjamin (Selton Mello) dava vida ao palhaço Pangaré e dividia o picadeiro com seu pai Valdemar (Paulo José), que era o palhaço Puro Sangue. A sinergia da dupla em cena era impressionante e aquelas cenas me deixaram com vontade de assistir a um espetáculo circense. O mágico Tony Lo Bianco (Cadu Fávero), o acrobata Robson Félix (Erom Cordeiro), o homem mais forte do mundo Gordini (Thogun), a cuspidora de fogo Lola (Giselle Mota) e a dupla de músicos João Lorota (Álamo Facó) e Chico Lorota (Hossen Minussi) também são destaques do espetáculo. É importante ressaltar que o glamour do artista de circense fica no picadeiro, porque a vida cotidiana é composta por uma rotina dura e repetitiva.






Talvez isso explique porque Benjamin, mesmo sendo o filho do dono do circo, tivesse a vontade de deixar a vida circense para procurar outros desafios. Ele refletia esse desejo de mudança através da fascinação por ventiladores, que simbolizavam novos ventos para ele, repletos de frescor. Assim surgiu uma das cenas mais emocionantes do longa-metragem, quando a caravana do circo deixava mais uma cidade e Benjamim apareceu estático no meio da estrada de terra. Ele desejava encontrar ânimo em novos caminhos, porém a dor da trupe era simbolizada pelo choro desesperado da menina Guilhermina (Larissa Manoela). Foi incômodo para mim, reconhecer que aquele alegre palhaço do Circo Esperança, pudesse esconder um cidadão cansado e sem graça.






Na minha opinião, o maior mérito do longa-metragem foi destacar o dilema entre vocação e felicidade. Mesmo sendo um palhaço engraçado no circo, Benjamin buscou uma nova vida na cidade, assumindo a possibilidade de ser um homem infeliz por pura falta de vocação. Uma frase do personagem Juca Bigode (Jackson Antunes) me chamou a atenção: “Cada um deve fazer aquilo que sabe fazer”. Suponho que as pessoas façam bem, aquilo que gostem de fazer. Com um elenco afinado, repleto das participações mais do que especiais de Moacyr Franco, Ferrugem e Tonico Pereira, considero o filme O Palhaço como uma obra-prima do cinema brasileiro, que desafiará você a pensar sobre suas próprias escolhas.


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