Lembro-me com muito carinho da minha vida em 1977. Os domingos eram tranquilos e o ritmo da vida era muito mais lento. Comércio fechado, não existiam shoppings centers, os postos de gasolina da cidade não abriam e as pessoas ficavam descansando em casa. A minha família se reunia na hora do almoço para comer a macarronada feita pelo vovó e depois vinha uma sobremesa deliciosa, que adoçava a vida de todos nós! Mais tarde eu encontrava os meus amigos da rua para jogar bola no campinho. Os clássicos eram sempre emocionantes e a alegria de marcar um gol era indescritível. O pôr do sol determinava o momento de nossa despedida, porque afinal de contas, no dia seguinte nós tínhamos obrigações escolares. Eu voltava a pé para a minha casa, corria para tomar banho e depois jantava com a apetite de um artilheiro da seleção brasileira. O que eu não imaginava é que a minha vida mudaria para sempre em março de 1977, quando conheci o quarteto “Os Trapalhões” na televisão.
A minha vida mudou para sempre naquela noite de 13 de março de 1977. Pontualmente às 19 horas, a Rede Globo exibiu o primeiro programa do quarteto "Os Trapalhões". Eram quatro amigos, que moravam juntos e viviam inúmeras situações engraçadas. Meus olhos brilharam de felicidade e tornei-me fã do quarteto formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias! Jamais esquecerei daquela abertura em desenho animado e do inesquecível “Tema dos Trapalhões”, criado pelo maestro Zé Menezes. Eu ria do começo ao fim do programa com as confusões desses quatro malucos, que definiam-se como o nordestino Didi, o galã da periferia Dedé, o malandro carioca Mussum e o ingênuo mineirinho Zacarias. Meu amor por eles foi aumentando a cada domingo e aos poucos fui comprando vários produtos licenciados pelo quarteto como revistas em quadrinhos, máscaras, figurinhas e até vários canudos de plástico do achocolatado Toddy com o rosto de cada um deles.
Todos os anos, nas férias de Julho e Dezembro, meu saudoso avô levava meu irmão mais velho e eu, para assistirmos aos filmes dos Trapalhões no cinema. As salas ficavam lotadas e as crianças torciam pela vitória dos super-heróis brasileiros! Eu comia pipoca, tomava refrigerante, gritava alto e ainda batia palmas durante a exibição dos filmes. Aqueles momentos foram mágicos para mim e estão guardados com muito carinho no meu coração! Na minha opinião, a “Era de Ouro” dos Trapalhões no cinema foi de 1978 a 1982, com filmes como Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978), O Cinderelo Trapalhão (1979), Os Três Mosqueteiros Trapalhões (1980), O Incrível Monstro Trapalhão (1980), Os Saltimbancos Trapalhões (1981) e Os Trapalhões na Serra Pelada (1982). Graças ao quarteto mais amado do Brasil, conheci o espaço sideral, as cataratas do Iguaçu, o autódromo de Interlagos, o parque de diversões Play Center, o Grand Circo Bartholo, o garimpo de Serra Pelada e muito mais.
O mês de agosto de 1983 ficará marcado para sempre na minha memória, porque "Os Trapalhões" avisaram seus fãs numa entrevista coletiva, que tinham decidido encerrar o quarteto. Um mês antes eu tinha assistido O Cangaceiro Trapalhão (1983) no cinema e tinha sido mágico! Meus amigos apareceram na televisão com semblantes carregados e poucas palavras. Eu chorei demais naquele dia! Não acreditava que aqueles quatro malucos, que alegravam a minha vida, tinham decidido se separar. Fiquei confuso e muito decepcionado, porque nada foi explicado para as crianças. A magia tinha acabado e sentia-me traído por ídolos tão amados! Tudo parecia um pesadelo. A partir daquele momento, o programa “Os Trapalhões” continuaria sendo exibido aos domingos às 19 horas, somente com o Didi. Já seus antigos parceiros Dedé, Mussum e Zacarias, passariam a fazer parte do elenco do programa “A Festa é Nossa”, exibido aos domingos às 18 horas.
Nas semanas seguintes, os jornais tentavam explicar os motivos que levaram o quarteto a se separar. Na cabeça das crianças, o motivo que fez "Os Trapalhões" encerrarem o quarteto, foi o fato do Didi ter feito um filme sozinho, intitulado “O Trapalhão na Arca de Noé”, lançado em 15 de dezembro de 1983. Muito magoados, Dedé, Mussum e Zacarias decidiram filmar “Atrapalhando a Suate”, lançado em 10 de dezembro de 1983. Naquela época os jornais noticiavam que Didi continuaria sendo “O Trapalhão” e que seus três ex-companheiros formariam “Os Trapalhaços”. Como fã do quarteto “Os Trapalhões” fiz questão de não assistir nenhum dos dois filmes em dezembro de 1983 e desisti de assistir aos programas deles na televisão. Didi, Dedé, Mussum e Zacarias separados não tinham a menor graça!
Quando eu menos esperava, minha decepção pela separação do quarteto, terminou em março de 1984. Didi, Dedé, Mussum e Zacarias conversaram e decidiram voltar com “Os Trapalhões”. Os motivos da separação não me interessavam naquele momento, porque o mais importante era a reconciliação! Quando eu soube da notícia, comecei a pular no sofá de casa, comemorando a volta do meu querido quarteto. Aquilo que parecia impossível, aconteceu! Tirei os gibis e as figurinhas que estavam guardados no fundo da gaveta, porque o mundo dos Trapalhões fazia sentido novamente. Naquela noite de domingo, 25 de março de 1984, meu coração bateu mais forte, quando surgiu uma nova abertura na televisão, ao som do inesquecível "Tema dos Trapalhões".
Depois da reconciliação, voltei a assistir ao programa deles, todos os domingos. Eles voltaram ainda mais malucos e engraçados! Obviamente, nas férias de julho de 1984, fui ao cinema para assistir ao filme “Os Trapalhões e o Mágico de Oroz” (1984). Segui como fã, pelo mundo mágico do quarteto “Os Trapalhões” na televisão e no cinema, até o dia 18 março de 1990, quando lamentavelmente o humorista Mauro Faccio Gonçalves (Zacarias) faleceu.
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